Inteligência artificial: o impacto da tecnologia nos negócios

Publicado em 25 de setembro de 2020 Publicado por Redação BRZ Content

Em entrevista exclusiva à BRZ Content, a pesquisadora em impactos sociais da inteligência artificial Dora Kaufman esclarece conceitos ligados ao tema e mostra como a inteligência artificial vem sendo adotada pelas empresas no Brasil e no mundo.

A inteligência artificial mudou a vida de todos e trouxe impactos no mundo dos negócios; a professora da PUC-SP e especialista da área Dora Kaufman responde dúvidas em entrevista exclusiva para BRZ Content.

BRZ Content – Qual é a definição mais correta para Inteligência Artificial e como ela está relacionada aos conceitos de Machine Learning e Deep Learning? 

Dora Kaufman – Existem inúmeras definições de IA, a que mais gosto, até mesmo por ser mais simples, é que a inteligência artificial é a ciência e a engenharia de criar máquinas que tenham funções exercidas pelo cérebro dos animais.

O termo Inteligência Artificial (IA) apareceu pela primeira em 1956 no título de um evento de verão no Dartmouth College, em Hanover, EUA. Organizado por Marvin Minsky e John McCarthy, o evento reuniu 10 eminentes pesquisadores envolvidos nos esforços científico-tecnológicos de criar modelos de simulação do funcionamento do cérebro humano.  O evento não atingiu seus objetivos, mas criou o campo da Inteligência Artificial.

Em 1959, Arthur Lee Samuel, pioneiro norte americano no campo de jogos de computador e Inteligência Artificial, cunhou o termo “Machine Learning” inaugurando um subcampo da IA cuja finalidade é prover as máquinas/sistemas da capacidade de aprender sem serem programados; são algoritmos que, seguindo instruções, fazem previsões baseadas em dados.

Muitos projetos de Inteligência Artificial não concretizaram suas promessas iniciais por conta de limitações de processamento dos computadores e de técnicas adequadas, e de ausência de grandes bases de dados. Em 1969, Marvin Minsky e Seymour Papert publicaram um livro com previsões pessimistas em relação ao aprendizado de máquina, implicando que por décadas a abordagem dominante no campo da IA foi baseada em programas lógicos de computação, marginalizando a visão baseada no aprendizado de máquina.

Na década de 1980, Geoffrey Hinton, Yoshua Bengio e Yann LeCun, associaram a técnica de backpropagation ao aprendizado de máquina, viabilizando o uso do aprendizado de máquinas para resolver problemas concretos/pontuais. Essa técnica é a base do modelo empírico chamado Deep Learning, que permeia a maior parte do que está acontecendo no mundo em relação ao uso de IA.

Um bom conteúdo muda tudo

Está presente desde diagnósticos médicos até reconhecimento facial nos sistemas de vigilância, nos aplicativos e plataformas online, nas contratações de RH e na análise de crédito, e numa infinidade de tarefas na economia.

São esses algoritmos de Inteligência Artificial que estão mediando as redes sociais, as plataformas de busca como o Google. Essa técnica tem dado resultados surpreendentes.

BRZ Content – Onde já podemos identificar o uso da Inteligência Artificial?

Dora Kaufman – Os algoritmos de Inteligência Artificial não são visíveis, são modelos empíricos que aplicados na resolução de determinadas tarefas estão dando resultado. A Inteligência Artificial que está sendo usada em larga escala, o Deep Learning, é apenas um modelo estatístico de probabilidade baseado em dados, nada a ver com o imaginário sobre IA estimulado pelos filmes de ficção científica.

Sua capacidade é extrair informações contidas em grandes conjuntos de dados e, com base neles, fazer previsões com alto grau de acurácia. Esses algoritmos estão nos modelos de negócio da Netflix, do Google, Facebook, Amazon, Sportify, Uber, Airbnb, Waze e muitos outros aplicativos e/ou plataformas online. Estão, igualmente, em inúmeros setores da economia e da sociedade.

Esses sistemas trazem enormes benefícios à sociedade e, simultaneamente, riscos. Quanto mais compreendermos seu funcionamento, mais estaremos aptos a enfrentar os impactos negativos, como, por exemplo, no mercado de trabalho e questões éticas.

O modelo de Deep Learing foi reconhecido em 2012, é muito recente, e tem limitações dentre elas destacaria a não-explicabilidade ou opacidade (“Black Box”), e o viés contidos nos resultados.

BRZ Content – Por que o modelo de Deep Learning/IA está sendo tão disseminado em 2020? 

Dora Kaufman – Com o desenvolvimento das tecnologias digitais, de informação e comunicação, a partir do final do século passado, passamos a produzir e armazenar enormes volumes de dados, que crescem exponencialmente. Esses dados representam o conhecimento da sociedade, sejam os dados pessoais, captados em nossas movimentações online, com informações sobre por onde andamos, o que consumimos, o que gostamos, com quem andamos, nossas preferências e desejos, sejam os dados captados via sensores dos objetos e equipamentos conectados (IoT).

Cerca de 90% dos dados atuais são não-estruturados. A técnica de Inteligência Artificial usada amplamente é capaz de extrair informações úteis desses dados e, com base neles, fazer previsões sobre, por exemplo, se uma imagem de um tumor é ou não cancerígena, se e quando uma peça precisará de manutenção ou reposição, sobre a demanda por determinado produto ou serviço.

Respondendo a sua pergunta, a Inteligência Artificial  (deep learning) está se disseminando rapidamente porque permite extrair informações úteis dessa enorme base de dados e fazer previsões assertivas sobre se e quando um evento vai ocorrer.

Na gestão de qualquer negócio, até mesmo em qualquer atividade ou ação humana, a capacidade preditiva é crítica; antecipar eventos reduz os riscos ao oferecer a oportunidade de agir antecipadamente, evitando danos maiores.

BRZ Content – No Brasil, onde já podemos ver um uso mais acentuado da Inteligência Artificial?  

Dora Kaufman – Em geral o mercado brasileiro está na fase de digitalização, ou seja, automação dos processos internos, o que representa a primeira fase da Transformação Digital. Temos muitas barreiras, tais como deficiência de infraestrutura, ausência de ecossistemas de inovação e de mão-de-obra especializada/capacitada, carência de fontes de investimento e financiamento, distanciamento entre universidade-mercado, falta de política pública, dentre outras.

Nas empresas que já adotaram a Inteligência Artificial, no Brasil e no mundo, predomina a automação inteligente de processos internos e o atendimento virtual aos clientes por meio dos chatbots.

Temos experiências locais implementadas no varejo, inclui o varejo financeiro/bancos, de atendimento virtual aos clientes que, em parte, usa a Inteligência Artificial, e algum uso nos processos internos, mas ainda muito restrito às lideranças setoriais (financeiras e/ou tecnológicas).

A capacidade de previsão mais assertiva da técnica de deep learning, reduz custos e aumenta a eficiência da operação qualquer que seja o setor de atividade, além disso oferece interfaces mais efetivas com os usuários/clientes/consumidores. No entanto, o processo de implementação não é simples, requer grande volume de dados, rotular os dados, adequar à regulamentação principalmente no que tange aos dados pessoais, além das limitações intrínsecas à técnica.

BRZ Content – Como a Inteligência Artificial tem transformado a realidade das empresas?

Dora Kaufman – Não visualizo grandes transformações no Brasil atual com o uso da Inteligência Artificial, como disse antes, sua adoção ainda é relativamente restrita. Estamos muito defasados em relação ao resto do mundo, particularmente aos países líderes como EUA e China, no que tange à transformação digital, a adoção das tecnologias digitais e, mais ainda, as tecnologias de IA.

O ponto positivo é que, aparentemente, a IA “entrou no radar”, a mídia tem dado certa visibilidade e o público tem se interessado. Tenho visto e participado de muitas Lives/webinars abordando diversos aspectos da IA, como impactos no mercado de trabalho, na educação e questões éticas, especialmente com a aprovação recente pelo Senado da entrada em vigor da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Dora Kaufman é professor-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD/PUC-SP). Autora dos livros “O Despertar de Gulliver: os desafios das empresas nas redes digitais” e “A inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana?”.

Dora Kaufman também escreve uma coluna semanal para Época Negócios, que você pode acessar aqui.

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Por Leticia Maciel, jornalista, pós-graduada em marketing digital. 

 

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