Educação digital: Leandro Herrera explica como criar cursos on-line

Publicado em 22 de julho de 2020 Publicado por Redação BRZ Content

Em entrevista exclusiva à BRZ Content, o fundador da escola de tecnologia e negócios Tera fala sobre estratégias para ter sucesso no desenvolvimento de produtos digitais no setor de Educação

 

Se você está pensando em criar um curso on-line ou abrir uma empresa no ramo, estas dicas vão encurtar o seu caminho. Leandro Herrera, CEO da Tera, tem experiência de quatro anos neste novo mercado.

Colunista de transformação digital da Época Negócios, ele não poderia deixar de falar também sobre as tendências para o setor de Educação.

Herrera é desbravador do mercado de produtos digitais e criou uma plataforma que começa a desenhar um novo modelo de ensino/aprendizagem. Mas vamos direto ao ponto?

BRZ Content: Como criar um produto digital de sucesso no setor de Educação?

Criar um produto digital na Educação é diferente de criar um outro tipo de produto digital, porque o resultado que você entrega depende muito do perfil do aluno. Depende da dedicação dele, da bagagem que ele traz e de como isso vai se somar à experiência que ele já tem.

Para ficar mais claro, posso traçar um paralelo. Se você tem um produto da Creditas, que é acesso a crédito, ou do Nubank, você tem mais clareza da ação que espera do usuário. É mais simples. Quando você cria um curso on-line, o melhor resultado que você pode ter é a experiência do usuário.

BRZ Content: Como garantir a boa experiência do usuário em um curso on-line, com aulas remotas?

Na Terá, nós entregamos a experiência em duas etapas, a parte assíncrona e a parte síncrona, ou seja, a primeira é a experiência do usuário na plataforma, com os conteúdos que produzimos e a forma como nos aproximamos das pessoas. Na parte síncrona, é a interface com os professores, é o conteúdo do curso em si, que agora estamos tendo que entregar de forma 100% remota. Então, para criar um produto digital de ensino, é preciso considerar estes dois lados. A interação social conta muito na educação. Depois vem o feedback do usuário, que ajuda no aperfeiçoamento.

 

BRZ Content:  Qual é o passo a passo ideal para o desenvolvimento do produto digital?

Antes de definir o conteúdo do curso que você vai criar, o formato e o meio pelo qual você vai entregá-lo, existe o papel do designer instrucional (designer de aprendizagem).

Este profissional vai definir os objetivos de aprendizado do aluno, o perfil da pessoa que vai aprender. O que ela vai sair sabendo fazer? Como isso vai acontecer para ela?

O designer instrucional faz o escopo do projeto, independentemente do meio pelo qual o curso será distribuído.

Isso inclui pensar o seguinte “será que as pessoas querem aprender para elas ou para ensinar outras pessoas? Quais são os objetivos e expectativas desta pessoa que vamos atrair? Para isso, criamos um ambiente de forte interação, fazemos entrevistas com públicos similares em potencial, para validar a hipótese. Definimos exatamente que problemas vamos resolver na vida dos nossos alunos. Isso aumenta muito as chances de ser bem-sucedido no lançamento de um produto digital.

Um bom conteúdo muda tudo

A evolução disso tem um desdobramento, que é a definição do formato. Então, por exemplo, vamos fazer cinco aulas em áudios de cinco minutos cada, ou vídeos de 3 minutos com aulas on-line ao vivo etc.

Depois, vamos definir em que plataforma a experiência vai ser entregue. Você pode optar por uma plataforma já existente, como a Hotmart, ou você pode ser uma empresa de educação, que tem a própria plataforma.

BRZ Content: Qual é a tendência para os novos modelos de ensino no digital?

A pandemia trouxe uma necessidade maior de atualização dos nossos modelos de ensino e no próprio produto digital que a Tera oferece. As pessoas ainda confundem muito o que é tecnologia, conteúdo e experiência.

A Educação está se movendo para ser quase uma rotina na vida dos profissionais, assim como o exercício físico. Diante de tantas mudanças, as pessoas vão começar a colocar a aprendizagem na agenda como colocam qualquer outro tipo de atividade relacionada ao seu desenvolvimento. Precisamos quebrar o paradigma de que educação representa blocos em nossas vidas.

Na Tera, estamos fazendo uma série de atualizações. O produto digital tem que ter a ambição de ser um produto que acompanha o desenvolvimento profissional dos alunos de forma contínua, e o produto digital entra muito neste contexto.

O curso tem que ter um formato mais estruturado de aprendizagem. O objetivo do time de produto é identificar a necessidade de atualização constante das pessoas.

A partir de interações com os estudantes, podemos desenvolver funcionalidades para ajudá-los a atingir seus objetivos profissionais.

BRZ Content: como você avalia o nível de maturidade do Brasil em termos de tecnologia para a evolução dos sistemas de ensino no digital?

Nós já temos diversos players neste mercado, como os gigantes globais Google, Udemi e a LMS (Learning Management System). No Brasil, temos a Hotmart e inúmeras EdTechs, que são startups de tecnologias voltadas para a educação, que podem auxiliar empresas e instituições de ensino na criação de produtos digitais.

Posso citar também a Mindlab, a Tamboro (que oferece produtos de desenvolvimento de habilidades socioemocionais para empresas) e a Geekies, que é um sistema voltado a escolas.

 

BRZ Content: Você acredita que a educação digital vai ampliar o acesso à educação de qualidade ou, por falta de recursos e ferramentas, pode agravar a desigualdade social.

No curto prazo, nós temos este problema de acesso à tecnologia, mas considero este um problema relativamente fácil de ser resolvido.

O preço dos softwares e dos computadores tende a baratear e já existem iniciativas para ampliar o acesso à internet.

O ponto positivo da educação digital é que ela pode eliminar a exclusão geográfica e a exclusão por classe social. Alunos de uma escola pública, que vivem em lugar remoto ou que são de baixa renda, por exemplo, podem ter acesso a um conteúdo de altíssima qualidade que é consumido por um aluno de um colégio particular, se ele tiver acesso à internet.

Educação digital: vendas de cursos on-line

No setor da educação, o canal que mais performa é indicação. Este é o canal mais barato, mas ele depende da qualidade do seu produto.

Se a empresa de educação digital é nova, ela pode crescer organicamente. Se

quiser acelerar o processo, pode fazer um investimento em anúncios. Uma opção é trabalhar com microinfluenciadores no Instagram ou Linkedin, o que ajuda a lançar produtos com mais capilaridade.

O inbound marketing é muito efetivo, principalmente para formar uma base, mas não é rápido.

Em alguns modelos, as pessoas liberam cursos gratuitamente como forma de degustação para depois converter para o curso pago.

Criar redes sociais é um caminho necessário, mas também não é rápido. Aqui, a base que vai ser desenvolvida não vai dar resultado de um dia para o outro.

BRZ Content: Nossas caixas de e-mail estão lotadas. Esta ainda é uma estratégia válida?

O e-mail marketing gera resultados se a base for um público de interesse no tema. Você não pode enviar somente e-mails de venda, precisa de e-mails de conteúdos que ajudam as pessoas a evoluírem dentro do seu tema de interesse. É uma combinação de canais, o chamado Omnichanel que faz a venda dos cursos on-line.

No caso de empresas mais maduras, você pode adotar também uma equipe de vendas para tirar dúvidas das pessoas que acessar suas plataformas, levando estas pessoas para o WhatsApp. Não são todas as pessoas que conseguem fazer isso no lançamento de um curso on-line, mas o contato pessoal é muito importante. Tirar dúvidas, falar com pessoa e não com robô. Dá mais segurança e converte melhor.

Os três pilares de sucesso da Tera

BRZ Content: Você pode compartilhar com a gente o segredo do sucesso da Tera?

Nós temos em mente três pilares, que envolvem não somente o aprendizado, mas também a gestão do negócio digital como um todo.

Experiência do usuário: atender às expectativas e aos objetivos do aluno, a ponto de ele ser um promotor da marca e fazer indicações

Comunidade: reunir um grupo de pessoas com interesse no mesmo tema e promover o espírito de cooperação e interação. Colher feedbacks para aperfeiçoamento dos processos, da metodologia e do negócio.

Horizontalidade: seguimos um modelo de autogestão. Existem várias formas de organizar isso, mas o princípio básico é o de que existe transparência entre os papeis desempenhados pela empresa. A partir disso, as pessoas têm liberdade para definir seus próprios papeis.  Existe uma hierarquia de propósitos, não é de pessoa para a pessoa. Existem círculos que agrupam os papeis direcionados a um propósito específico.

A Tera não é dividida em áreas, como nos modelos tradicionais de negócios. Ela é dividida em círculos: círculo de expansão de comunidade, círculo de desenvolvimento da plataforma e assim por diante.

Por esta afinidade, os papeis vão se agrupando. A empresa toda vai se orientando pelos propósitos, intrínsecos e compartilhados entre as pessoas. Isso dá possibilidade de fazer mudanças rápidas. No modelo tradicional, é difícil mover pessoas de uma área para a outra. Aqui as pessoas não têm cargo, elas têm papeis, elas se movem dentro da organização de acordo com o desenvolvimento da corporação.

Isso dá mais flexibilidade para fazer e desfazer círculos. Quando estourou a covid-19, criamos o círculo “Mais fortes que a covid”, especificamente para tratar da transição do atendimento para estudantes e da transição para um modelo remoto. Este círculo durou 3 semanas, a estratégia da organização mudou, fizemos adaptações importantes e desfizemos o círculo.

BRZ Content: Para encerrar, como você vê o futuro da Educação?

Eu vejo uma combinação de várias coisas. Por um lado, a tecnologia, principalmente a inteligência artificial, todo aparato de Inteligência Artificial, com muitos potenciais interessantes.

Vejo que as pessoas ainda acham difícil saber onde ela é boa e onde ela precisa se desenvolver, ou seja, as nossas decisões sobre o que aprender ainda estão dentro de uma caixa preta.

Temos tecnologia para desenvolver um perfil completo, e ter o entendimento sobre o que precisamos aprender para dar o próximo passo profissional. Podemos usar a tecnologia para customizar a trilha de aprendizagem de milhões de pessoas, onde cada uma vai ter sua experiência.

Tem mais um elemento importante que é o da conexão humana, mesmo em processos de aprendizado remoto. O contato com as pessoas. No final, a experiência de aprender é uma experiência social.

Mesmo com o uso da tecnologia, vamos aproximar as pessoas, tornar humano. Ao mesmo tempo, vamos usar a tecnologia para conseguir customizar em grande escala uma trajetória de aprendizado para ajudá-la a dar o próximo passo de acordo com o objetivo que ela tem.

Acredito que, no futuro, vamos combinar o melhor destas duas coisas.

 

 

 

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